segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

boêmia

sobre os músicos da próxima esquina
não tenho nada a dizer...
não decorei a ultima nota,
nem sequer sei qual a próxima podre melodia de dois acordes..

aquela canção que quisemos compôr tempos atrás,
não teria possibilidade tão bela
quanto a nos dada por este acaso despercebido,
sutil e implacável
vista deste eterno agora.

dualista

ontem uma situação revelou-me repartida,
mas preferi sair ilesa e não tomar partido
flutuei sobre a situação
sobre os dois lados opostos
mas que ficavam do mesmo lado do rio
observei meus próprios olhos
tentando ver por onde ia a resposta
a essa pergunta mal formulada...

então
não decidi,
não abri mão,
nem fechei,
apenas deixei o rio continuar correndo.

qual barragem não irá estourar um dia?

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

salvação

as vezes eu me sinto um peixe com memória curta, sabe?
nadando a maioria do tempo numa água espessa e turva, sem ao mesmo me dar conta que estou na água, muito menos que é turva, pensando que a vida é assim mesmo. E as vezes quando estou quase sufocando, por pura necessidade de oxigênio, eu subo na superfície e assim posso ver o sol, o ar, as arvores ao redor, através dos meus olhos de peixe, é ai que percebo que sou um peixe, que nado numa água espessa e suja, e que existe coisas além disso. e suspiro.

porém, como eu disse, peixe de memória curta.
Oxigênio recomposto, alívio imediato, sensação de cura, e pronto, acho que posso voltar a mergulhar nessa água espessa e suja, junto com todos os outros peixes, e penso: -vou salvar todos eles, vou traze-los aqui e mostrar a eles que somos peixes, e que existem muitas coisas além disso.
Só que então, no meio do caminho esqueço... esqueço... até o próximo momento em que eu quase morro sufocada.

domingo, 7 de dezembro de 2008

águas

quis por toda a culpa em ti, mas a dor não é tua, é minha.
como posso pensar que és a causa, se sou eu quem sinto a ânsia de vômito.
....
Você não me enxergaria, não seria possível com esses olhos cheios de nuvens pesadas e cinzas.
não me entenderia, muito menos ainda, perdoaria.

como sujeitar-se a olhos assim sem se perder, sem se encharcar dessa magoa tempestuosa?
esquecida que teus olhos jamais foram donos de mim, me perdi.
Mas recordei-me agora, a tempo de me salvar de morrer afogada dessas tuas águas turvas e silenciosas. E de agora, se me vês ou não, não importa mais, jamais irá me tomar ou me tornar.

lavei-me dos pés a cabeça dessas águas límpidas lacrimais e curadoras.

agora é que vamos ver.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

prolixia

Sempre, sempre, sempre. que eu me construo rápido, é rápido a desmoronar. Deslizamentos, e alagamentos no meu cérebro, e a dor da perda toma conta de mim. Lhe falei que nunca havia me cortado, e pela primeira vez passou-me pela cabeça que seria uma bela distração essa dor física à vista, e curável, do que uma que nunca, nunca, nunca pode-se ver, curar ou fechar apenas com remédios simples e curativos práticos e manipuláveis.

A razão me abandona sempre, sempre, sempre.. que o coração me toma por saltos, e as trágicas lembranças dos passados funcionam como motivos, desculpas e bodes expiatórios para meu comportamento instável, anárquico, inseguro, infantil... descompromissado.

onde já se viu. alguém do meu tamanho chorar assim por tanta bobagem. E lá vem meus pressentimentos antigos, revisados e desmedidos... com réguas imaturas e sem nenhum sentido.

Procuro minhas curas momentâneas, equilibrando sobre o teclado um cigarro, escrevendo sem parar palavras soltas, que descrevem no formato e não no conteúdo as minhas reclusas desculpas desavisadas de mim de mesmo.

Por mim... só queria ser como um monge. Aliviar esses tons de vermelho na minha cabeça, olhos e boca. Como Tara Vermelha a mulher BUDA. Tentei até meditar em silencio mas acabei de me arrebentar por dentro.

Deixe-me escrever, por favor, é o único remédio a vista, além dessa carteira de cigarro cheinha, aliviadores desse grito amarronzado.

Eu faço certo mas em seguida estrago e destruo toda a impressão descente em uma única fala. É como falar dos marrecos e patos antes de dormir ao seu lado.

Não há como entender-me. eu mesmo gostaria.... você não entende. e ainda clama para que eu veja através de sua boca fechada.

E aí que eu pedi por um clarão, um herói disfarçado, um príncipe num cavalo branco, um semi-deus tranqüilo e barato. mas foi o suficiente para me perder diante de tanta sensação descompensada, pensamentos acusadores, disparates e abóboras mágicas!

Éra assim que eu via Cinderela.